CONSTRUÇÃO E CONSTRUTIVIDADE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: DA TEORIA À PRÁTICA E AO ENCAN

A infância estende-se até os doze anos de idade e não pode esperar do lado de fora da escola. Esta é a premissa presente nas nossas discussões dentro da Escola Municipal Fundamental João Goulart, bem como, no GEPAI[1]- Grupo de Estudos e Pesquisas em Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A partir dela temos vivido movimentos significativos no que diz respeito ao direito à Infância em nossa escola, dentre os quais, a convite de Tais Romero, relatamos de início ao fim.
Tudo começou quando, em meados deste ano, tivemos acesso ao livro “Construção e Construtividade: materiais naturais e artificiais nos jogos de construção” do Jardín Fabilinus que encanta pelo conteúdo, pelas imagens, pela curiosidade que nos provoca.
Eis que a investigação do Parque dos Dinossauros nos cativa ao percebermos que as crianças realizaram suas construções, registraram graficamente o que construíram e, posteriormente, são convidadas a olhar com olhos-de-ver, as fotografias produzidas do que haviam construído.
Há um trabalho de organização coletiva. As crianças escolhem as fotografias, distribuem-nas e trabalham em uma atmosfera de prazer e entusiasmo. Cada uma observa, atenta, a imagem escolhida, há um esforço para fazer a reprodução das fotografias o mais fiel possível (DUBOVIK, CIPPITELLI, 2018, p. 114).
As páginas 114 a 121 apaixonam pela sensibilidade das crianças ao traçar linhas que representam muito mais que as fotografias, representam a experiência de viver ao construir. Dessas páginas surgem a inspiração para realizarmos algo tão potente quanto o que víamos registrado no livro.
Ofertamos às crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental materiais naturais e artificiais com o objetivo de identificar as formas de atuação das crianças sobre os mesmos, registrando através de fotografias, o espaço que naquele momento se transformou em território com diferentes contextos preparados e pensados para a Infância potente neste grupo de crianças de 6 e 7 anos.
Realizamos o mesmo trajeto historiado no livro, ao passo que, chegamos ao momento de utilizar as fotografias como fonte de pesquisa e de memória do vivido, para o registro gráfico da experiência vivenciada. Eis que as crianças se reconhecem e, de maneira ética e com grande valor estético colocam-se a realizar as suas representações, analisando os traços, buscando referenciais para deixar as marcas (suas novas marcas) e construir novas linhas, fazendo suas investigações sobre o que e quem foi fotografado. Suas hipóteses são verbalizadas, discutidas e revisitadas por olhos- pensantes.
Madalena Freire (1996, p. 14) afirma que “oolhar-pensante de um autor, qualquer que seja ele, registrado pelo desenho, assim como por qualquer outra linguagem artística, provoca um novo olhar naquele que olha esta produção, seja também quem for”.
Assim, o olhar-pensante das crianças revela o quão sedutor é o ato de criar, construir e registrar, criando memórias afetivas de um viver cotidiano que se torna potente ao ser visto com a sutileza, num espaço e num tempo que reconhece o movimento mais vigoroso da Infância existente em nossas escolas.
Infância que deve ser vista, também, com olhos-de-ver e com a escuta necessária para que os professores reconheçam a importância de situações como esta que relatamos acima, buscando inspirações, referenciais teóricos e interlocuções com a prática docente cotidiana, para assim, não perder o encantamento ao ver as crianças encantadas com suas construções, hipóteses e escritas.
Referências:
DUBOVIK, Alejandra; CIPPITELLI, Alejandra. Construção e Construtividade: materiais naturais e artificiais nos jogos de construção.Trad. Bruna Hering de Souza Villar. São Paulo: Phorte Editora, 2018.
FREIRE, Madalena; CAMARGO, Fatima; DAVINI, Juliane; MARTINS, Mirian Celeste. Observação, registro, reflexão– Instrumentos metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.
[1]GEPAI- Grupo de Estudos e Pesquisas em Anos Iniciais do Ensino Fundamental objetiva fomentar o estudo e a pesquisa nos anos iniciais do ensino fundamental, o GEPAI surge da necessidade de ampliar a interlocução de saberes dos professores e professoras que atuam em turmas de 1º à 5º ano. E-mail:gepai.ijui@gmail.com