SABERES E PRÁTICAS - o que eu sei, o que eu acho que sei e o que eu achava que sabia, mas não sabia

Entre um atendimento e outro com as professoras da Educação Infantil que chegam para conversar comigo e inspirada em Bartolomeu Campos de Queiroz, tento decifrar, enquanto falam, quantos professores passaram por aquelas pessoas, quantos ficaram, quantos as atravessaram na construção da identidade profissional de cada uma e ainda, quem serão elas na constituição da identidade dos seus alunos. A medida que compartilham comigo as angústias, dúvidas e certezas sobre um determinado projeto que está em andamento, fica evidente para mim a complexidade da afirmação de Wallon sobre a possibilidade de escolha: "o hábito precede a escolha". Enquanto falam, eu continuo olhando através do que está sendo falado e mais uma vez me pergunto: Será que elas têm clareza das suas ações? Será que sabem o por quê fazem o que fazem? Será que eu tenho clareza do que estou fazendo? Para mim, na minha prática, as leituras que fiz sobre Wallon fizeram com que eu recalculasse a rota da minha trajetória e do meu planejamento de trabalho. Isso também aconteceu quando li Dubar e sei que vai acontecer tantas outras vezes, quando eu me aproximar do que eu ainda não sei, ou do que eu achava que sabia, mas, não sabia. Almeida (2017, p. 46) afirma que: “É só quando os indivíduos conseguem identificar e nomear os saberes constituídos na ação que saberes não sabidos se transformam em sabidos, e isso se faz à custa de explorar as experiências vividas, em um clima livre de pressões ou ameaças”. No meu entender, a escola é um espaço de relações, diferenças e construção de conhecimento e cultura, ancorado por subjetividades que representam o meio de cada indivíduo que o habita. A estrutura de um grupo não é a soma de relações interindividuais. Se ele existe, sua existência deve-se, sem dúvida, à presença de seus membros e ao que eles dão de si próprios. O grupo dependerá, então, do que eles são e do que eles fazem, mas, em troca, ele impõe suas exigências. Ele dá novas formas e objetivos específicos às atividades de seus membros. (WALLON, 1986, p. 177) Se eu compreendo que a afetividade é a porta de entrada para o conhecimento, o meu trabalho só passa a fazer sentido para mim, quando as relações interpessoais e afetivas estão em consonância com a cognição. Segundo Mahoney e Almeida (2005, p. 8), o adulto tem maiores recursos de expressão representacional: observa, reflete antes de agir; sabe onde, como e quando se expressar; traduz intelectualmente seus motivos e circunstâncias. As autoras ainda afirmam que existe um antagonismo entre emoção e atividade intelectual (antagonismo de bloqueio). Qual é o meu papel, se não ter uma escuta sensível, reconhecendo cada uma em sua singularidade, permitindo-me silenciar para deixar que o outro entre em mim, sem julgamentos o pré-conceitos. Estar atenta ao seu ponto de vista e suas hipóteses, pode ser uma estratégia formativa para para provocar o desejo de construir conhecimento e autoria do pensamento.